Descoberta do ESO revela que a órbita da estrela tem a forma de uma
roseta e não de uma elipse, reafirmando a teoria da relatividade geral proposta
em 1915
REDAÇÃO GALILEU
16 ABR
2020 - 10H36 ATUALIZADO EM 16 ABR 2020 - 10H36
Observações feitas com o Very Large
Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO)
revelaram que a estrela S2, que orbita o Sagittarius A*,
buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea, se move exatamente como
previsto pela teoria geral da relatividade de Albert Einstein.
A descoberta foi compartilhada nesta quinta-feira (16) no Astronomy &
Astrophysics.
Segundo os especialistas, a órbita da
estrela tem a forma de uma roseta, contrariando o formato de elipse que seria
previsto pela teoria da gravidade de
Isaac Newton. Isso porque a relatividade geral de
Einstein prevê que as dobras no espaço-tempo causadas pelo buraco negro tornam
a trajetória da estrela irregular — justamente como a observada em S2.
"Esse famoso efeito, visto pela
primeira vez na órbita do planeta Mercúrio ao
redor do Sol, foi a
primeira evidência a favor da relatividade geral", afirmou Reinhard
Genzel, um dos pesquisadores, em declaração à imprensa. "Cem anos depois,
já detectamos o mesmo efeito no movimento de uma estrela que orbita a fonte
compacta de rádio Sagittarius A* no centro da Via Láctea.
Essa descoberta observacional reforça a evidência de que Sagittarius A* deve
ser um buraco negro supermassivo com 4 milhões de vezes a massa do Sol."
O Sagittarius A* está situado a 26
mil anos-luz do Sol e a 20 bilhões de quilômetros da S2 durante seu período de
aproximação máxima (essa distância equivale a 120 vezes a distância entre o Sol
e a Terra).
Quando está mais perto do buraco negro, a estrela percorre o Espaço com a um
ritmo de quase 3% a velocidade da luz, o que faz com que cada uma de suas
órbitas dure cerca de 16 anos terrestres.
De acordo com os especialistas, a
maioria das estrelas e planetas tem uma órbita não circular e, portanto, se
aproximam e se afastam do objeto que estão transitando. A órbita da S2 recua, o
que significa que a localização do ponto mais próximo do buraco negro
supermassivo muda a cada trajeto, de modo que a próxima órbita esteja
rotacionada em relação à anterior, criando uma forma de roseta.
Graças à teoria de Einstein, é
possível prever essas mudanças na órbita de estrelas como a S2 — e
pesquisas como a realizada pela ESO comprovam a teoria da relatividade geral,
pois medem exatamente essa trajetória. Esta é a primeira vez que esse efeito,
conhecido como precessão de Schwarzschild, foi medido para uma estrela que
orbita um buraco negro supermassivo.
“Como as medições de S2 seguem muito
bem a relatividade geral, podemos estabelecer limites rigorosos de quanto
material invisível, como matéria escura distribuída ou possíveis buracos negros
menores, estão presentes em torno do Sagittarius A*", disseram Guy Perrin
e Karine Perraut, que também participaram da pesquisa. "Isso é de grande
interesse para entender a formação e evolução de buracos negros
supermassivos."